17.7.05

AGORA E ADIANTE



Talvez este seja o momento perfeito para, finalmente, inaugurar esta minha nova ”casa”. Talvez, porque, felizmente, a minha vida tende a fugir da monotonia e a cada dia, às vezes a cada hora, surge um mundo de experiências e sensações que me tornam difícil escolher o que contar, ou do que falar.
Talvez também, por esse motivo, este é um lugar de eleição para mim! Um lugar de partilha, que tanto tenho procurado, da porta aberta para todas as pessoas que de alguma forma me gostariam de conhecer melhor, de perceber quem sou eu…
Certo é que esta semana reúne, em particular, tantas situações importantes e decisivas que me parece óbvia a urgência de “agarrar o momento”.
Para descrever melhor a fase que atravesso, não encontro termo mais apropriado do que: BALANÇO! De repente, quase todas as situações da minha vida parecem convergir para esta semana, levando-me a apreciar todo o meu percurso, as minhas escolhas, a minha forma de estar.
O lançamento do “Melhor de Mafalda Arnauth” vem precisamente dar relevo a esta sensação. Não imaginaria que surgiria, tão depressa, a oportunidade de ver o meu breve percurso compilado, mostrando-me tudo o que tenho feito de forma clara e inequívoca, recordando-me temas que a cada novo disco se foram distanciando da minha memória, substituídos pela criatividade recente de novas músicas e poemas que - por serem as “últimas” do meu coração - ocuparam um espaço nos meus concertos, nas minhas acções de promoção, enfim, no meu presente.
Este álbum resume, se possível, o meu crescimento como artista. É um mapa que espelha cada passo que dei para evoluir; a partilha humana com todas as pessoas que comigo construíram cada tema e cada sensação; a minha luta para ultrapassar inseguranças e incertezas; a minha opção clara e irrefutável pela musica, pela minha verdadeira vocação. O Fado que inegavelmente faz parte de mim, mesmo nos temas em que as fronteiras com a tradição e as experiências não estão bem definidas - pois é desses que nasce a maior reflexão, a maior dificuldade e a sensação de se lidar com algo preciosamente misterioso.
A maior riqueza destes anos e dos três álbuns que fiz reside, sem dúvida alguma, na partilha humana com todas as pessoas com quem os construí: João Gil, Amélia Muge, José Martins, todos os músicos, todos, Luís Oliveira, José António Pedro, Maria João Castanheira, Paulo Paz… Um Best Of enche-nos sempre de alegria, pois é sempre um sinal de que, apesar do pouco tempo, já fizemos algo de bom…
O lançamento do Best Of lança-me inevitavelmente para um outro balanço, mais arriscado, de futuro menos claro, mas não menos importante para mim. Sendo um disco editado pela EMI, vem revelar que é possível, mesmo em face da minha saída desta editora, “construir” - em nome dos excelentes anos em que juntos demos forma à Mafalda Arnauth. O ter saído da EMI é muito mais um passo em busca de liberdade total e procura de uma marca pessoal que um acto de desencanto ou desagrado. Em nome de excelentes pessoas com quem tive oportunidade de conviver; e um ano depois de me ter tornado independente, não posso deixar de os referir neste balanço, pelo passado, pelo presente que estamos a partilhar e pelo futuro que se prevê de colaboração e respeito.
Num contexto totalmente diferente; e sempre falando de situações que me fazem avaliar e reflectir a minha vivência, o concerto com os Corvos, no passado dia 8 de Julho, no Castelo de S. Jorge, é mais uma peça fundamental, por todo o horizonte que me abriu e por alimentar a minha necessidade de ser desafiada, de experimentar, de abrir caminhos. Foi inegável a minha alegria, depois de ultrapassada a dificuldade de recriarmos temas meus em conjunto com os Corvos (conjugar horários, géneros musicais e hábitos absolutamente distintos é tarefa de considerável desgaste…) de partilhar o palco com músicos de uma energia e entrega notáveis, que se deixaram seduzir pela crescente energia da noite. Talvez este seja o facto de maior realce para mim: em muitos concertos que tenho feito, não me lembro de ter sentido tamanha entrega da minha parte, tamanha fúria de cantar, de estar ali, quase selvagem e absolutamente intensa. Este concerto em particular é, provavelmente, o culminar de uma atitude crescente de entrega total. Senti, mais do que nunca, que estar em palco é vital para mim. A música deixou de ser apenas concertos, discos, ensaios. Passou a ser a minha sobrevivência e mais do que isso, a minha transcendência!
Faz também, em breve, um ano que tomei a decisão mais dura da minha vida. Reestruturar a minha forma de trabalhar com o meu “companheiro de aventuras” de sempre: Helder Moutinho e a sua HMmúsica. A dificuldade dessa decisão prendeu-se unicamente com um medo, não totalmente infundado, que essa reestruturação representasse, para as pessoas que sempre nos conheceram juntos, uma ruptura. E essa sensação era para mim quase cruel, pois punha em causa todo o companheirismo, crescimento e amizade que sempre fez parte do nosso percurso.
Passado um ano, a HMmúsica e a MAFALDARNAUTH management (que entretanto criei e para a qual asseguro a gestão) seguem, como sempre, de “mãos dadas”. Apenas mais amadurecidas, procurando viabilizar e tornar mais eficazes todos os projectos conjuntos sem sobrecarga de nenhumas as partes. Tenho poucos balanços tão positivos na minha vida como este, pois é desta união que nasce a Mafalda Arnauth que todos conhecem - e é também graças a ela que eu, simplesmente Mafalda, continuo a ser muito afortunada pelo grande amigo que tenho…
Chegamos finalmente à cereja no topo do bolo, deste rosário (ou fadário…). O meu próximo álbum, o filho de uma vida inteira, pois se os outros álbuns foram sempre reflexos de mim, dos meus momentos na altura, este reúne, pedacinhos de sempre, de todos os instantes, de tristeza, amargura, desencantos e da sempre presente força, luta e imperativa capacidade de seguir em frente. Será o álbum das influências, das interferências da vida, dos outros, dos amores, da fé que me acompanha, do pormenor.
É um assunto ao qual voltarei em breve, também aqui. Aliás, não pensem que se esgotam, com este longo (porque sentido) texto, assuntos para vos falar futuramente. Por ser quem sou, terei sempre o que dizer. Pela vida que escolhi, sempre que puder, cada dia tem muito para encher este Fadiário…

2 Comments:

At 8:35 da tarde, Blogger sotavento said...

Agradável surpresa, encontrar este cantinho - gosto imenso de fado, gosto muito de Mafalda Arnauth!... :)

 
At 6:17 da tarde, Blogger tsiwari said...

Oh que bom...

Parabéns pelo excelente trabalho até agora desenvolvido e por esta ideia genial!

Fã, sempre, do fado e da Mafalda

TsiWari

 

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