5.7.06

QUANDO A ALMA TAMBÉM FICA GRÁVIDA



Este pode chamar-se de “post” espontâneo, porque não contava escrevê-lo, porque não teve de ser pedido nem recordado pelos meus queridos amigos da BMA (no curso do seu fantástico trabalho nem sempre é raro terem de me recordar que os dias passam mais velozes do que me dou conta…), porque o assunto que vos trago foi provavelmente encarado com carinho da minha parte, mas sem conhecimento de mais uma lição de vida fantástica que dele iria receber…
Fui hoje convidada para um jantar de Gala do 15º Congresso Mundial da Sociedade Internacional para o estudo da Hipertensão na Gravidez, depois de ter actuado na sessão de abertura do mesmo, no passado Domingo, 2 de Julho.
No Domingo pude aperceber-me do grupo especial para quem fui convidada a cantar e da importância do evento, pela enorme afluência de inscritos no congresso e pela forma calorosa com que se manifestaram depois da actuação.
Depois, no jantar, pude perceber bem mais…
Talvez o nome extenso do Congresso nos distraia do seu objecto. Mas, quando temos oportunidade de privar de perto com estas pessoas, é impossível passar despercebida a imensa alma e o coração que colocam, no que fazem e para quem o fazem. A Mulher, a Gestação, o Nascimento de um Ser são palavras que surgem de forma sagrada na boca das pessoas que hoje conheci: obstetras, cardiologistas, ginecologistas e tantos outros médicos e simpáticas familias…
Talvez dessa dedicação venha a atmosfera que impregnou o jantar… cerca de 700 pessoas que entre si trocavam impressões como vizinhos desde sempre, ou mais ainda, amigos íntimos, unidos por uma causa maior.
O convite foi-me feito pela Dra. Maria Clara Bicho e o brilho no olhar que lhe vi, ontem à noite, reabilitou-me para muito tempo com as pessoas que podem e devem fazer algo pelos outros, pelo seu país, pelas causas que interessam. Percebi que este evento nasceu não só de um sonho, como de muita fé, convicção e uma determinação de ferro. Como para tantas outras coisas que interessam, os apoios foram quase inexistentes (salvaguardando a ajuda abençoada do Pestana Palace a vários níveis e mais alguns apoios suados!!!).
Mas percebi acima de tudo que esse sonho pode realmente tornar-se realidade e fico imensamente feliz pela oportunidade que me foi dada de, mais uma vez, tomar parte com o meu dom na construção de algo tão válido. Percebi também, com imenso orgulho, que pelo menos 700 pessoas puderam apreciar Portugal no seu máximo de dignidade, nobreza e empreendimento. Desde o acolhimento logístico aos congressistas, às intervenções de elevado nível dos oradores, à perfeita organização estrutural do evento, ao apontamento de fado, tudo se ouvia louvar na conversa dos presentes no jantar de Gala. E com tanto jantar a que tenho tido oportunidade de assistir, acreditem, sei bem distinguir as conveniências da verdadeira satisfação.
A lição de que falei ficaria bem justificada com tudo o que aqui vos contei. Mas, mesmo assim, falta só mais uma coisinha para ela ficar completa: muitas vezes digo que procuro que o meu canto não seja estéril, que possa gerar algo, que não se fique pelo encore final à espera do próximo concerto… Mas por vezes também, esqueço-me ou distraio-me… e nesses momentos perco-me da visão do que realmente importa!
Qualquer que seja a nossa melhor capacidade, o nosso dom, ele tem de servir para qualquer coisa além de nós próprios, do nosso ego. Só assim ele é válido e não se esgota porque, por vezes, do outro lado, há um retorno imenso que lhe dá ainda mais sentido. E lhe dá Poder, capacidade de construir, de ajudar e de retribuir o que a vida tão generosamente nos dá - e que nós, por vezes, distraídos, não vemos…