21.12.05

PARA ANTÓNIO

E a saudade, Mafalda?
Esta palavra mágica, sublime, de que não encontramos tradução fiel em qualquer dicionário universal, que significado tem para si?
Tristeza e melancolia, porque não está com alguém?
Alegria e conforto, porque apesar de tudo sabe que "eles estão sempre lá", como é uso dizer-se?

E, ainda, qual destas posições sobre a dependência/proximidade física, digamos assim, da Amizade, faz, para si, mais sentido?
"o valor máximo, e verdadeiramente importante, da Amizade é o momento do encontro com aqueles que nos são caros" - Francesco Alberoni
"interessam-me tanto os amigos que não me fazem bem, como os inimigos que não me fazem mal..." - Miguel Esteves Cardoso
"são as palavras e os gestos que alimentam a Amizade e, verdadeiramente, marcam o seu Sentido" - EU (se mais alguém, peço desculpa!) :-))

António Machado



Querido António
As suas palavras acabam por ajudar-me a responder, com facilidade, a ultima pergunta! As suas palavras e os seus gestos, sempre de carinho e conforto, já em diversos momentos, fazendo com que a sua frase seja realmente aquela com que mais me identifico e que mais sentido faz. A amizade alimenta-se verdadeiramente daquilo que damos aos outros, da realidade, da acção e da entrega - mesmo que não obedeça à proximidade física e ainda menos à dependência. Os meus grandes amigos encontram-se alguns bem longe e nunca sinto, no entanto, a falta criada pela sua ausência. Afinal de contas, cada palavra e gestos que (quando podemos) trocamos são recheados de amor e Amizade tão intensos que superam qualquer fragilidade física.
Com isto também consigo responder à minha “versão” da saudade que sempre gostei de traduzir como o dom “de ter coisas Maravilhosas” para recordar. As minhas saudades já foram angustiadas, infelizes, recheadas daqueles porquês de quem questiona as distâncias muito mais do que verdadeiramente está por trás do que une as pessoas. Quando percebi que o viver o momento presente é muito mais rico do que ficarmos presos ao passado, percebi a imensidão de “saudades” boas que iria passar a ter e a riqueza do meu amanhã. Cada abraço que dou, hoje em dia, a alguém que não vou ver tão depressa é muito mais forte, mais carregado de tudo o que não vou poder dizer ou viver tão depressa. E, no dia seguinte, tenho muito mais abraços para dar a quem me rodeia e acompanha sempre, porque de alguma forma o que passou ou foi para longe não deixa nunca de estar comigo e enriquece-me sempre.

1 Comments:

At 3:30 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Obrigado Mafalda,

Retiro da riqueza das suas palavras sobretudo a lição, passe algum “pretensiosismo” do termo, da ponte que deve ser estabelecida entre o passado de cada um de nós, de tudo o que de mais significativo ele possa encerrar, e o presente feito de novas vivências, de novas emoções, de novas sensações partilhadas.
E é exactamente esse passado, com todas as suas referências, que deve ser a fonte enriquecedora do nosso presente, tornando-nos mais atentos, mais solidários, numa palavra, melhores.
Referências que encerram momentos e pessoas que pertencem a um tempo sem tempo, pequenos tesouros afinal, que connosco partilharam o lado mais brilhante dos dias, na força de um abraço ou no afago de uma simples mas doce palavra.
Ter o “dom de ter coisas maravilhosas para recordar”, como a Mafalda tão bem define a saudade, deve ser pois o modo justo de olhar e lidar com algo que, sabemos, é para nós, muitas vezes, uma fonte de algum (muito) desalento.
Porque afinal são aqueles que amamos, mesmo estando por vezes tão longe, a razão determinante de continuarmos a acreditar, todos os dias, que o sorriso e o abraço voltarão sempre a ser possíveis, o mar continuará a ser belo, as estrelas irão sempre presentear-nos com o fantástico do seu brilho.
É também com eles e por eles, que acreditamos que o sol nunca irá deixar de aquecer os seus e os nossos corações.

"bjinhos".
:-)

ps: para todos os que continuam a passar por este cantinho que tanto nos aconchega,votos de boa quadra natalícia e de um 2006 em que os valores verdadeiramnte importantes, o amor, a amizade, a ternura, a confiança ou o sorriso, sejam a marca de um tempo que queremos novo, de um espaço que terá de ser cada vez mais gratificante.
Particularmente para a Cris (de nome próprio Pinguim...:-) )um beijinho e o desejo de que continue a trazer para aqui, com a simplicidade e a ternura a que sempre nos habituou, escritos, momentos e emoções que tanto prazer nos dá partilhar.
Façam-me então, todos, o favor de serem felizes!!!
:-))

 

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